quinta-feira, 23 de outubro de 2008

UM em Silêncio Colectivo, por Ricardo Vasconcelos

"Desculpem 'amigos' da UM, mas hoje, em nome dos leitores do CM, não posso concordar com o vosso desprezo."

Ricardo Miguel Vasconcelos, Correio do Minho

Os alunos da Universidade do Minho estão, até ver, em blackout, um silêncio que chegou sem pré-aviso e que surpreendeu aqueles que mais directamente lidam com os acontecimentos da academia minhota. A Latada 2008, célebre apresentação dos caloiros às cidades de Braga e Guimarães, foi vivida para dentro, numa introspecção desmedida e sem grande sentido por parte dos intervenientes.

Pelos vistos, esta atitude dos estudantes foi um desafio levado a cabo pelo Cabido de Cardeais que, em forma de protesto contra a maneira como a comunicação social tem tratado os assuntos relativos à praxe, silenciou as alegres mentes dos alunos da academia.
Depois de alguns contactos com pessoas ligadas à Associação Académica (não se confunda AAUM com o Ca-bido de Cardeais), foi-me dito que os estudantes ficaram revoltados com a forma como a SIC tratou a academia numa das suas recentes visitas às actividades de recepção ao caloiro.

O canal de televisão entrou, sem autorização, nas piscinas da rodovia, em Braga, no dia do 'caloiro ao molho'. Procuraram irracionalmente tudo o que de mal por lá se poderia passar e ignoraram o resto, a essência, o convívio, o acolhimento, o espírito de equipa, a luta por vencer as provas, os gritos de curso e os ternos abraços de quem chegou pela primeira vez à universidade. Resultado: nada encontraram, nada viram que pudesse envergonhar a UM. Depois, acabaram por dizer que o dia escolhido para fazerem a reportagem foi 'anormal', motivando uma interpretação clara de que naquele preciso e único dia os alunos estavam a portar-se bem, o que não acontece em todos os outros. Para essa equipa de reportagem, o que se passou naquele dia foi um milagre, uma coincidência infeliz, uma timidez colectiva.
Antes de tudo, esta atitude por parte da SIC é vergonhosa, peca por ser tendenciosa, por não cumprir as regras elementares de um trabalho jornalístico. Até aqui, tudo bem. Agora pergunto: esse canal de TV é 'deus', centraliza tudo o que se faz na comunicação social em Portugal? O que é que o Correio do Minho tem a ver com isto? Nada.

A atitude do Cabido de Cardeais peca, não pela forma, mas pelos critérios que o levaram a formular o conteúdo do protesto.
Há muito que as várias direcções da AAUM perceberam que a comunicação com o exterior e com o próprio meio onde assume a sua essência deve funcionar. E nesse aspecto, Vasco Leão e Roque Teixeira trabalharam muito bem. Pedro Soares, actual líder da associação, conseguiu estreitar ainda mais as relações com a imprensa local. E daí resultaram parcerias importantes como a cobertura jornalística de eventos tão nobres como a Recepção ao Caloiro, o Enterro da Gata, Gata na Praia, actividades do Departamento de Desporto e todas as outras realizações com origem na UMinho que são notícia diária, por exemplo, no Correio do Minho.

Dou os parabéns ao Cabido de Cardeais pela forma como conseguiu passar a mensagem, numa espécie de envolvência colectiva que obrigou a nossa jornalista a um exercício inglório de falar com algum dos intervenientes. Não houve ninguém a furar a rede de um acordo universal entre os participantes da Latada 2008.

Acredito que os promotores do protesto tivessem a melhor das intenções, mas as consequências do silêncio talvez tenham atingido todos menos aqueles que deveriam ser o alvo. A SIC não costuma vir à Latada, certo? E a RTP? E os jornais nacionais? Ninguém os vê. E neste aspecto, talvez seja altura da UM fazer uma reflexão colectiva sobre os seus critérios de comunicação. Todos sabemos que a universidade prefere cinco segundos na TV do que duas páginas num jornal regional. Prefere uma breve nos 'nacionais' do que três páginas nos 'regionais'. Pensa-se grande, mas em tamanho pequeno, minúsculo como a ligeira forma de pensar de que os de fora são sempre melhores do que os da casa.

Pedro Soares prontificou-se a falar com o CM no dia da Latada. Disse compreender a atitude dos estudantes, mas afastou a associação, e bem, de qualquer responsabilidade neste silenciamento. Obrigado por nos ter tratado de forma igual, sem generalizações precedidas de pouca reflexão.
No CM, a UM será sempre notícia, independentemente de falarem connosco. Já leram os testemunhos de alguns alunos que estão em 'Erasmus' por esse mundo fora?
Desculpem 'amigos' da UM, mas hoje, em nome dos leitores do CM, não posso concordar com o vosso desprezo. Não aceito o conteúdo. A forma, essa é indiscutivelmente relevante e mos- trou a união dos estudantes.