quinta-feira, 23 de outubro de 2008

Nem todos os universitários estão em blackout, por Felisbela Lopes

"Em semana de 'blackout' do Cabido dos Cardeais aos media, abro o 'Correio do Minho' e sou surpreendida por uma nova rubrica: 'Ideias: Erasmus'. Trata-se de um espaço que o jornal reservou para os estudantes da Universidade do Minho que, este ano lectivo, prosseguem os seus estudos em universidades estrangeiras. De todo o mundo. O título da primeira crónica é este: 'Eu sou a Rita, de Braga, Portugal'."

Felisbela Lopes, Correio do Minho

Numa semana em que o Cabido dos Cardeais (o grupo de alunos que coordena as praxes) da Universidade do Minho (UM) decidiu que o corpo estudantil não falava com os jornalistas em matéria de recepção ao caloiro, iniciou-se no "Correio do Minho" uma curiosa rubrica que é uma espécie de bilhete postal enviado pelos estudantes da UM que se encontram em diferentes países ao abrigo do programa Erasmus. Enquanto por cá meia dúzia de alunos viram as costas aos jornalistas e se entretêm em latadas, outros há que, espalhados pelo mundo, nos fazem chegar interessantes ecos da sua estadia em prestigiadas universidades.

Não entendo qualquer "blackout" aos jornalistas. Se alguma instituição não concorda com determinado trabalho jornalístico, tem vários caminhos para demonstrar o seu desagrado: escreve uma carta ao director da empresa de comunicação, invoca o direito de resposta e exige que se volte ao assunto, faz uma queixa à Entidade Reguladora dos media, recorre aos tribunais… Normalmente reage-se de outra maneira: decreta-se o silenciamento das fontes e procura-se excluir os jornalistas de determinados acontecimentos. Não é esta uma atitude sensata. No caso das praxes da Universidade do Minho, dir-se-á que a decisão responsabiliza o Cabido dos Cardeais, mas também poder-se-á pedir contas a outras estruturas representativas dos estudantes de quem ainda não ouvi uma palavra de discordância em relação a tudo isto. É claro que as direcções estudantis estão no seu direito de não falarem com os jornalistas, mas exige-se que esse comportamento seja coerente. Não se poderá aceitar um "blackout" em tempos de praxe e depois reclamar a atenção mediática no Enterro da Gata. Por exemplo.

Também eu fui apanhada pela estranha decisão do tal Cabido de Cardeais cuja composição desconheço. No início do ano, havia combinado com a turma do 2º ano de Ciências da Comunicação um conjunto de reportagens sobre praxes académicas. Esta semana, esses meus alunos pediram-me para alterar o tema. Segundo me asseguraram, haverá uma proibição de captar som e imagem de praxes e as fontes têm uma espécie de voto de silêncio em relação aos jornalistas ou aos estudantes de jornalismo. Não mudei o tema. Prefiro pensar que houve aqui um erro de interpretação, deixando aos meus alunos esta mensagem: aos "cardeais" da academia garante-se toda a liberdade para não falar, assim como se espera que todos os estudantes tenham o direito à opinião e à palavra no espaço público. Não poderá ser de outra forma numa universidade e seria estranho que houvesse alguém na UM que impusesse outro caminho em termos de liberdades individuais.

Em semana de "blackout" do Cabido dos Cardeais aos media, abro o "Correio do Minho" e sou surpreendida por uma nova rubrica: "Ideias: Erasmus". Trata-se de um espaço que o jornal reservou para os estudantes da Universidade do Minho que, este ano lectivo, prosseguem os seus estudos em universidades estrangeiras. De todo o mundo. O título da primeira crónica é este: "Eu sou a Rita, de Braga, Portugal". A Rita é minha aluna de Ciências da Comunicação. Este ano lectivo está em Manchester. Leio com gosto as suas bem redigidas impressões da universidade que a acolhe. Nos dias seguintes, seguem-se o Luís que está na Lituânia e o Vasco que escolheu a Roménia. De segunda a sexta-feira, chegarão diariamente mais postais, destes e de outros estudantes Erasmus. Excelente ideia esta, a de abrir as páginas do Correio do Minho a universitários minhotos que, neste momento, estão em diversas partes do planeta.
Irei seguir com todo o interesse essas crónicas, não fosse eu uma coleccionadora de postais de cidades. Não tenho muitos, mas aqueles que possuo (quase todos oferecidos) servem de tela a uma das paredes do meu gabinete. Atrás da minha secretária, abrem-se, assim, múltiplas janelas para sítios distintos que eu vou unindo através de sentidos que são os meus. É, por isso, que gosto muito dos textos dos estudantes Erasmus.

Fico contente por serem assinados por alunos da Universidade do Minho que sabem abrir horizontes através das páginas dos jornais.