sábado, 6 de dezembro de 2008

A BOLA Depois do Jogo com Hereenven

Festa vai chegar à Trofa
Braga está orgulhosa com a proeza da equipa de Jorge Jesus na Taça UEFA * Adeptos com um sorriso no rosto incentivaram jogadores no treino de ontem * Em marcha está uma excursão de comboio até ao palco do próximo jogo

BRAGA está em festa. Não há greve dos professores, crise económica ou relatos de guerras distantes capazes de desvanecer o sorriso dos adeptos minhotos. Motivo: a bela caminhada europeia do Sp. Braga. Um orgulho, uma felicidade, um desfilar de sentimentos que se atropelam e unificam, porque isto de um clube com um dos orçamentos mais baixos da Europa superar pela terceira vez consecutiva a fase de grupos da Taça UEFA provoca imparável espiral de emoções, que ninguém quer controlar.

Braga é uma cidade de trabalho. Por isso, os sinais da agitação no dia seguinte à vitória da equipa sobre o Heerenveen não eram assim tão evidentes. Mas existiram. Os jornais desportivos, em especial os que fizeram manchete com a proeza bracarense, voaram logo pela manhã, nos blogues e sites desaguaram centenas de mensagens e comentários elogiosos à estratégia de Jorge Jesus e à forma determinada e corajosa como a equipa assumiu os riscos na Holanda.

A crise passou para segundo plano nas conversas de café, abafada pelo êxito de um Sp. Braga com charme europeu, que convoca alegrias e contagia as gentes com o calor de do seu jogo apelativo. Pelo meio, um esgar, ou, como um dia cantaram os GNR, um sorriso cruel pelo destino que atira o Benfica para um exercício matemático de resolução improvável.

Equações a que o pragmático Sp. Braga escapou no último dia útil, gozando a folga europeia confortavelmente sentado no sofá, à espera que o líder de um dos grupos da UEFA que pode calhar em sorte à equipa traga receita extraordinária e permita pensar em igualar o desempenho de 2006/2007 neste formato, quando os bracarenses chegaram aos oitavos-de-final.

Ontem, cerca de três dezenas de adeptos combateram a temperatura baixa do final da tarde para ir ao treino. Não foram muitos mas o calor humano faz bem a um plantel que mal teve tempo de colocar o sono em dia e que já virou a agulha para o jogo com o Trofense.

A propósito desta partida, que se disputa depois de amanhã, o site SuperBraga convocou todos os adeptos para uma excursão de comboio até à Trofa. É uma viagem curta, de apenas meia hora, e com hora marcada: a locomotiva dos Guerreiros sai de Braga às 17.30 horas para levar a festa de Heerenveen até à casa do antepenúltimo classificado da Liga.


Editorial
Projecto a sério é o do Braga
Por Fernando Guerra

NO futebol cá de casa há o hábito de se falar muito em projectos/ilusões. É frequente ouvir os treinadores dizer que recusaram determinado convite por estarem à espera de um projecto melhor. Em Portugal, ao nível da primeira Liga, durante anos, os clubes foram agrupados em dois tipos de projectos: os que lutam pelo título e os que lutam pela manutenção. Uma espécie de organização composta por ricos e pobres, sem espaço para a classe média. Uma sociedade sem horizontes, fechada à mudança, ao progresso. Pode dizer-se que sempre foi assim, mas não faz sentido que se diga que assim tem de ser no futuro. É preciso combater a hegemonia dos grandes, criar alternativas, desenvolver projectos a sério, como o do Sporting de Braga. Ainda não se perfila como candidato a títulos, mas deu um passo em frente, abolindo o discurso dos resignados. Não é como os grandes, mas já não é como os outros. Conquistou o seu espaço, quando, há meia dúzia de anos, António Salvador, o seu presidente, percebeu que era possível abrir uma terceira via. A colheita de hoje é já consequência da sementeira que começou a ser feita em 2003...

Jesualdo Ferreira lançou as sementes
Sociedade entre o professor e Salvador reergueu clube falido e sem rumo desportivo definido
Pelo terceiro ano consecutivo, o Sp. Braga ultrapassa a fase de grupos da Taça UEFA e consolida o seu estatuto europeu. Em 2003, quando António Salvador assumiu os destinos de um clube falido e à beira da descida, a Europa era uma utopia, um sonho louco, um projecto impossível. O actual quadro financeiro e desportivo representa o sucesso das directrizes que presidiram ao renascimento do Sp. Braga em tão curto espaço de tempo.

Neste capítulo, é impossível esquecer as virtudes da sociedade António Salvador/Jesualdo Ferreira na construção, quase desde a base, dos alicerces que permitiram ao clube reerguer-se. Em três épocas e meia, o professor tirou a equipa do buraco e conferiu-lhe brilho competitivo, graças a uma filosofia desportiva assente no rigor táctico e em escolhas cirúrgicas para o reforço do plantel.

Neste período, e por três vezes seguidas, o Sp. Braga de Jesualdo Ferreira apurou-se para as competições europeias, mas o treinador não pôde colher os frutos das sementes que lançou. Depois de falhar duas vezes a qualificação para a fase regular da Taça UEFA (frente ao Hearts e Estrela Vermelha), saiu em 2006, deixando uma boa herança para Carlos Carvalhal assinar essa proeza em 2006/2007.

A obra cresceu e desde aí o Sp. Braga já disputou 32 jogos europeus, dez dos quais com Jorge Jesus no comando.



Dentro da área
Braga em grande
Por Vítor Serpa
Louve-se o Braga. Grande atitude, grande capacidade de resistir ao vendaval holandês, que já tinha feito estragos em Setúbal, e grande personalidade. Tudo isto são indicadores muito positivos de um futuro desportivo bem mais perto dos maiores clubes portugueses. O grande desafio do Braga é não cair nos erros que outros já cometeram e saber que não pode construir um edifício mais alto do que as suas fundações permitem. Conquistar a cidade será, sempre, a prioridade. Criar um projecto de continuidade para conseguir um alto nível exibicional em regime de permanência, o outro factor essencial.

in A BOLA