domingo, 31 de maio de 2009

quarta-feira, 31 de dezembro de 2008

PSD exige demissão de Mesquita Machado da Câmara de Braga

31.12.2008, Samuel Silva
Em causa está o envolvimento do autarca, confirmado pelo tribunal, num acordo de permuta de terrenos

O PSD exige a demissão do presidente da Câmara de Braga, Mesquita Machado. Em causa está o envolvimento do autarca num acordo de permuta de terrenos entre vários empresários de Braga e o Colégio de S. Caetano, agora confirmado em tribunal, no processo que o colégio, uma instituição particular de solidariedade social (IPSS), moveu contra os empresários. O negócio lesou o colégio em cerca de três milhões de euros e foi espoletado em Junho, tendo motivado uma moção de censura à câmara, apresentada pelo PSD na Assembleia Municipal.Mesquita Machado é acusado de ter garantido à IPSS que os terrenos que esta ia receber na permuta seriam urbanizáveis após a alteração do PDM. Por outro lado, a Quinta do Salgueiró, propriedade da família do autarca, chegou a estar envolvida no negócio, ainda que este nunca se tenha realizado.O presidente da Câmara de Bragarecusa qualquer envolvimento, mas o caso chegou agora a tribunal, onde o juiz de instrução considerou provada a intervenção de Mesquita Machado no negócio. O juiz deu como provado que o autarca deu reais garantias ao Colégio de S. Caetano de que os terrenos que este ia receber eram urbanizáveis e que a propriedade do autarca esteve mesmo envolvida no caso. Além disso, a decisão de envolver a Quinta do Salgueiró foi tomada no dia seguinte à reunião que Mesquita Machado manteve com a direcção da IPSS.Em face destes desenvolvimentos, o vereador social-democrata Ricardo Rio diz que Mesquita Machado devia abandonar a presidência da autarquia. "A cada novo dado que surge sobre este processo confirma-se a ideia de que já haveria um novo presidente, se no município houvesse o mínimo respeito pela ética no exercício de cargos públicos", defendeu o vereador, que é o candidato do PSD à presidência da câmara nas autárquicas de 2009.

Obras do hospital
As obras de construção do novo hospital de Braga arrancam logo no início do ano. A garantia foi dada ontem, à margem da reunião de executivo, por Mesquita Machado. O autarca revelou que as obras começam antes mesmo do visto do Tribunal de Contas, de forma a evitar mais atrasos na construção do equipamento. Em Janeiro serão realizados os trabalhos de desmatação e colocação de vedações, bem como as primeiras intervenções no terreno. A Câmara Municipal de Braga já está a fazer os estudos dos acessos ao novo hospital, empreitada da sua responsabilidade.A câmara também aprovou ontem os trabalhos a mais na obra de prolongamento do túnel da Avenida da Liberdade. Em causa está o desvio de um colector de águas pluviais que chocava com um grande edifício romano descoberto no subsolo da artéria. A preservação do achado vai custar 80 mil euros à autarquia.

[Público, 31/12/2008]

sábado, 6 de dezembro de 2008

A BOLA Depois do Jogo com Hereenven

Festa vai chegar à Trofa
Braga está orgulhosa com a proeza da equipa de Jorge Jesus na Taça UEFA * Adeptos com um sorriso no rosto incentivaram jogadores no treino de ontem * Em marcha está uma excursão de comboio até ao palco do próximo jogo

BRAGA está em festa. Não há greve dos professores, crise económica ou relatos de guerras distantes capazes de desvanecer o sorriso dos adeptos minhotos. Motivo: a bela caminhada europeia do Sp. Braga. Um orgulho, uma felicidade, um desfilar de sentimentos que se atropelam e unificam, porque isto de um clube com um dos orçamentos mais baixos da Europa superar pela terceira vez consecutiva a fase de grupos da Taça UEFA provoca imparável espiral de emoções, que ninguém quer controlar.

Braga é uma cidade de trabalho. Por isso, os sinais da agitação no dia seguinte à vitória da equipa sobre o Heerenveen não eram assim tão evidentes. Mas existiram. Os jornais desportivos, em especial os que fizeram manchete com a proeza bracarense, voaram logo pela manhã, nos blogues e sites desaguaram centenas de mensagens e comentários elogiosos à estratégia de Jorge Jesus e à forma determinada e corajosa como a equipa assumiu os riscos na Holanda.

A crise passou para segundo plano nas conversas de café, abafada pelo êxito de um Sp. Braga com charme europeu, que convoca alegrias e contagia as gentes com o calor de do seu jogo apelativo. Pelo meio, um esgar, ou, como um dia cantaram os GNR, um sorriso cruel pelo destino que atira o Benfica para um exercício matemático de resolução improvável.

Equações a que o pragmático Sp. Braga escapou no último dia útil, gozando a folga europeia confortavelmente sentado no sofá, à espera que o líder de um dos grupos da UEFA que pode calhar em sorte à equipa traga receita extraordinária e permita pensar em igualar o desempenho de 2006/2007 neste formato, quando os bracarenses chegaram aos oitavos-de-final.

Ontem, cerca de três dezenas de adeptos combateram a temperatura baixa do final da tarde para ir ao treino. Não foram muitos mas o calor humano faz bem a um plantel que mal teve tempo de colocar o sono em dia e que já virou a agulha para o jogo com o Trofense.

A propósito desta partida, que se disputa depois de amanhã, o site SuperBraga convocou todos os adeptos para uma excursão de comboio até à Trofa. É uma viagem curta, de apenas meia hora, e com hora marcada: a locomotiva dos Guerreiros sai de Braga às 17.30 horas para levar a festa de Heerenveen até à casa do antepenúltimo classificado da Liga.


Editorial
Projecto a sério é o do Braga
Por Fernando Guerra

NO futebol cá de casa há o hábito de se falar muito em projectos/ilusões. É frequente ouvir os treinadores dizer que recusaram determinado convite por estarem à espera de um projecto melhor. Em Portugal, ao nível da primeira Liga, durante anos, os clubes foram agrupados em dois tipos de projectos: os que lutam pelo título e os que lutam pela manutenção. Uma espécie de organização composta por ricos e pobres, sem espaço para a classe média. Uma sociedade sem horizontes, fechada à mudança, ao progresso. Pode dizer-se que sempre foi assim, mas não faz sentido que se diga que assim tem de ser no futuro. É preciso combater a hegemonia dos grandes, criar alternativas, desenvolver projectos a sério, como o do Sporting de Braga. Ainda não se perfila como candidato a títulos, mas deu um passo em frente, abolindo o discurso dos resignados. Não é como os grandes, mas já não é como os outros. Conquistou o seu espaço, quando, há meia dúzia de anos, António Salvador, o seu presidente, percebeu que era possível abrir uma terceira via. A colheita de hoje é já consequência da sementeira que começou a ser feita em 2003...

Jesualdo Ferreira lançou as sementes
Sociedade entre o professor e Salvador reergueu clube falido e sem rumo desportivo definido
Pelo terceiro ano consecutivo, o Sp. Braga ultrapassa a fase de grupos da Taça UEFA e consolida o seu estatuto europeu. Em 2003, quando António Salvador assumiu os destinos de um clube falido e à beira da descida, a Europa era uma utopia, um sonho louco, um projecto impossível. O actual quadro financeiro e desportivo representa o sucesso das directrizes que presidiram ao renascimento do Sp. Braga em tão curto espaço de tempo.

Neste capítulo, é impossível esquecer as virtudes da sociedade António Salvador/Jesualdo Ferreira na construção, quase desde a base, dos alicerces que permitiram ao clube reerguer-se. Em três épocas e meia, o professor tirou a equipa do buraco e conferiu-lhe brilho competitivo, graças a uma filosofia desportiva assente no rigor táctico e em escolhas cirúrgicas para o reforço do plantel.

Neste período, e por três vezes seguidas, o Sp. Braga de Jesualdo Ferreira apurou-se para as competições europeias, mas o treinador não pôde colher os frutos das sementes que lançou. Depois de falhar duas vezes a qualificação para a fase regular da Taça UEFA (frente ao Hearts e Estrela Vermelha), saiu em 2006, deixando uma boa herança para Carlos Carvalhal assinar essa proeza em 2006/2007.

A obra cresceu e desde aí o Sp. Braga já disputou 32 jogos europeus, dez dos quais com Jorge Jesus no comando.



Dentro da área
Braga em grande
Por Vítor Serpa
Louve-se o Braga. Grande atitude, grande capacidade de resistir ao vendaval holandês, que já tinha feito estragos em Setúbal, e grande personalidade. Tudo isto são indicadores muito positivos de um futuro desportivo bem mais perto dos maiores clubes portugueses. O grande desafio do Braga é não cair nos erros que outros já cometeram e saber que não pode construir um edifício mais alto do que as suas fundações permitem. Conquistar a cidade será, sempre, a prioridade. Criar um projecto de continuidade para conseguir um alto nível exibicional em regime de permanência, o outro factor essencial.

in A BOLA

domingo, 9 de novembro de 2008

Blogues estão a (re)acender debate sobre as cidades

09.11.2008, Alice Barcellos

Os assuntos ligados a cidades são cada vez mais comuns na blogosfera do país. São intervenções que contribuem para a participação cívica e promovem a reflexão

Há uns anos, um cidadão que quisesse participar de forma activa na vida da sua cidade tinha poucas hipóteses de ser ouvido. Se a vocação fosse muita, poderia tentar entrar no mundo político; se não fosse este o caso, sobravam as hipóteses de recorrer às reuniões da câmara municipal ou tentar entrar em contacto com algum dirigente. Hoje, quem tem algo a dizer sobre a cidade onde vive pode criar um blogue. E já são muitos os que fazem isto.

Os blogues que dedicam as suas páginas e posts sobre assuntos relacionados com uma cidade são cada vez mais frequentes em Portugal. Com mais ou menos qualidade e credibilidade, é possível encontrar na blogosfera portuguesa espaços que discutem o país de norte a sul à distância de um clique.

Até que ponto estes blogues são uma nova ferramenta de participação cívica ou constituem um local de difamação e crítica do sistema político estabelecido? João Canavilhas, professor de comunicação na Universidade da Beira Interior e investigador no Labcom (Laboratório de Comunicação Online), considera que a resposta para esta questão centra-se "nos objectivos de quem administra o blogue".

"Um blogue genuinamente produzido por um cidadão, ou um grupo de cidadãos, sem interesses políticos é uma excelente forma de participação cívica", diz o investigador, realçando que "muitos destes blogues nascem da impossibilidade do comum cidadão publicar nos jornais regionais". Por outro lado, João Canavilhas não se esquece de referir a outra face de blogues urbanos: "Há blogues que são apenas mais um palco para as oposições e blogues anónimos que servem apenas para achincalhar os autarcas" (ver texto na página ano lado).

Da discussão cívica...
Os blogues "permitem a qualquer cidadão ter voz na sua comunidade", apesar de ainda estarem dependentes da "amplificação da imprensa tradicional" para ganharem mais reconhecimento público, defende João Canavilhas. "Estes blogues continuam a ganhar terreno e penso que nas próximas autárquicas já serão um importante espaço de debate", completa o investigador.Entre os administradores dos principais blogues urbanos do país, a opinião é quase unânime: os blogues surgiram para colmatar a falta de discussão pública sobre os assuntos locais e tentar melhorar aquilo que está mal. Um exemplo já conhecido é o blogue A Baixa do Porto. Surge em 2004 na sequência do encerramento de um fórum on-line criado pela Câmara do Porto para discutir a revisão do Plano Director Municipal.

"Quando esse espaço fechou, os seus frequentadores habituais ficaram "sem abrigo" e eu resolvi lançar uma alternativa que mantivesse a característica de praça pública, ou seja, de um local onde qualquer pessoa pudesse se exprimir", conta ao PÚBLICO o criador e administrador do A Baixa do Porto, Tiago Azevedo Fernandes, também conhecido pelas iniciais T.A.F.

"Verifiquei que havia muitas cabeças a pensar, mas não estavam, na altura, disponíveis ferramentas adequadas para permitir a troca eficaz de ideias nem para a formação sustentada e construtiva de opinião", recorda-se. Hoje, o A Baixa do Porto recebe cerca de 1000 visitas diárias e conta com textos de membros do "executivo e da oposição autárquica", além de outros especialistas. Tiago Azevedo Fernandes acredita que a diversidade de opiniões é um dos factores para o reconhecimento do blogue, ao qual também se juntam "a necessidade que a sociedade civil sente em agir" e a existência de "regras claras de participação". No A Baixa do Porto, os textos publicados devem ter "impacto na vida" da cidade e cumprir "regras mínimas de civismo", "para que haja uma utilização responsável da liberdade de expressão", explica o administrador do blogue.

... à força da imagem
Para dar mais credibilidade ao seu blogue, Paulo Morgado, criador e administrador do bracarense Avenida Central, optou por identificar-se, contrariando a tendência do anonimato presente em outros espaços virtuais. "Eu penso que a participação deve fazer-se com rosto", afirma o blogger. O Avenida Central, que aparece em 2006, tem como "principal objectivo estimular a reflexão e o debate sobre a cidade e a região, sem deixar de ter um olhar atento à actualidade nacional e internacional", explica Pedro Morgado, que considera "que o número de blogues locais com qualidade ainda é baixo, mas que tenderá a crescer".

O administrador vê o Avenida Central, que tem 800 a 1000 visitantes diários, como "mais uma forma de fazer cidadania", justificando que "em Braga a discussão pública é muito rara". Como facto mais mediático lançado pelo blogue, Pedro Morgado destaca "a Petição pelo Regresso do Eléctrico que resultou em várias iniciativas e tomadas de posição tanto na Assembleia Municipal de Braga como no próprio executivo municipal".

Quando a discussão virtual tem repercussões na vida real, o objectivo de certos blogues é concretizado. Aconteceu com o Avenida Central, com o A Baixa do Porto e acontece com o recente, mas já bastante conhecido, Lisboa S.O.S. Preocupado com o "estado de degradação" da capital, o Lisboa S.O.S. aposta, sobretudo, no impacto da imagem."As pessoas estão cansadas de muito texto", explica um dos criadores e administradores do blogue que prefere manter o anonimato, realçando que o faz "não para esconder mas para que o blogue seja de todos e não seja de ninguém". "Não queremos ligar o blogue a nenhum nome", diz o administrador.

Terreiro do Paço, Jardim Botânico, Mosteiro dos Jerónimos e outros locais emblemáticos de Lisboa já foram alvo das lentes atentas dos cinco participantes do blogue, que também se preocupa com problemas de certas freguesias ou bairros. O Lisboa S.O.S. conta com oito colaboradores que mandam fotografias, mas, todos os dias, recebem centenas de comentários e e-mails, que vão desde o apoio pelo trabalho feito no blogue até a denuncia de outras situações.

"Sabemos que a câmara e as juntas de freguesia vêem o blogue", conta um dos administradores, afirmando que "o blogue tem mais actuação a nível de micro-situações e alerta para problemas 'macro'". Além do trabalho de denúncia, o blogue também mostra o lado positivo de certos factos, por exemplo, quando as situações problemáticas ou degradadas são arranjadas. Também através de fotografias, o blogue A Cidade Surpreendente pretende mostrar o lado belo e contemplativo do Porto. O criador e administrador, Carlos Romão, vê no blogue "um acto de devoção com o Porto e uma prova de amor pela cidade". E como a degradação do património não passa despercebida, Carlos Romão decidiu criar o blogue A Outra Face da Cidade Surpreendente, porque não era justo mostrar só a parte bela da cidade", explica.

Encerramento abriu uma "caixa de Pandora", diz investigador
O encerramento, por ordem judicial, do blogue Póvoa Online, em Maio, já é alvo de um case study. Above the Press but under the Law: The first victim of the Portuguese blogosphere é o título do estudo, em fase de conclusão, do investigador do Cetac.Media, Universidade do Porto, e do Department of Politics and Communication Studies, Universidade de Liverpool, Rui Alexandre Novais. O investigador considera que o caso "abriu a caixa de Pandora em termos do precedente que constituiu no domínio da jurisprudência", realçando que a relevância do trabalho reside não só na "intervenção judicial no domínio supostamente sem lei da blogoesfera, em que tudo parecia ser permitido e só era proibido proibir", mas também nos "desafios dos novos media e dos blogues em particular".

Sob "a capa do anonimato", o blogue foi acusado de ofender o presidente e vice-presidente da câmara e pessoas que lhes eram próximas. "Após uma fase de crença nos mecanismos de auto-regulação do mercado, o episódio do Póvoa Online parece indiciar a necessidade de algum garante por parte das autoridades e dos poderes vigentes do equilíbrio e do respeito ou cumprimento da responsabilidade social dos novos media", sublinha Rui Alexandre Novais.O Póvoa Online acabou por ser sucedido pelo Póvoa Offline, o que, para o investigador, mostra "o grau de sofisticação na reacção e resposta por parte dos autores dos blogues quando confrontados com estas questões inovadoras, como a ordem de encerramento". O blogue Póvoa Offline é muito crítico para com o presidente da Câmara da Póvoa de Varzim, Macedo Vieira.

[Público]

quinta-feira, 23 de outubro de 2008

Nem todos os universitários estão em blackout, por Felisbela Lopes

"Em semana de 'blackout' do Cabido dos Cardeais aos media, abro o 'Correio do Minho' e sou surpreendida por uma nova rubrica: 'Ideias: Erasmus'. Trata-se de um espaço que o jornal reservou para os estudantes da Universidade do Minho que, este ano lectivo, prosseguem os seus estudos em universidades estrangeiras. De todo o mundo. O título da primeira crónica é este: 'Eu sou a Rita, de Braga, Portugal'."

Felisbela Lopes, Correio do Minho

Numa semana em que o Cabido dos Cardeais (o grupo de alunos que coordena as praxes) da Universidade do Minho (UM) decidiu que o corpo estudantil não falava com os jornalistas em matéria de recepção ao caloiro, iniciou-se no "Correio do Minho" uma curiosa rubrica que é uma espécie de bilhete postal enviado pelos estudantes da UM que se encontram em diferentes países ao abrigo do programa Erasmus. Enquanto por cá meia dúzia de alunos viram as costas aos jornalistas e se entretêm em latadas, outros há que, espalhados pelo mundo, nos fazem chegar interessantes ecos da sua estadia em prestigiadas universidades.

Não entendo qualquer "blackout" aos jornalistas. Se alguma instituição não concorda com determinado trabalho jornalístico, tem vários caminhos para demonstrar o seu desagrado: escreve uma carta ao director da empresa de comunicação, invoca o direito de resposta e exige que se volte ao assunto, faz uma queixa à Entidade Reguladora dos media, recorre aos tribunais… Normalmente reage-se de outra maneira: decreta-se o silenciamento das fontes e procura-se excluir os jornalistas de determinados acontecimentos. Não é esta uma atitude sensata. No caso das praxes da Universidade do Minho, dir-se-á que a decisão responsabiliza o Cabido dos Cardeais, mas também poder-se-á pedir contas a outras estruturas representativas dos estudantes de quem ainda não ouvi uma palavra de discordância em relação a tudo isto. É claro que as direcções estudantis estão no seu direito de não falarem com os jornalistas, mas exige-se que esse comportamento seja coerente. Não se poderá aceitar um "blackout" em tempos de praxe e depois reclamar a atenção mediática no Enterro da Gata. Por exemplo.

Também eu fui apanhada pela estranha decisão do tal Cabido de Cardeais cuja composição desconheço. No início do ano, havia combinado com a turma do 2º ano de Ciências da Comunicação um conjunto de reportagens sobre praxes académicas. Esta semana, esses meus alunos pediram-me para alterar o tema. Segundo me asseguraram, haverá uma proibição de captar som e imagem de praxes e as fontes têm uma espécie de voto de silêncio em relação aos jornalistas ou aos estudantes de jornalismo. Não mudei o tema. Prefiro pensar que houve aqui um erro de interpretação, deixando aos meus alunos esta mensagem: aos "cardeais" da academia garante-se toda a liberdade para não falar, assim como se espera que todos os estudantes tenham o direito à opinião e à palavra no espaço público. Não poderá ser de outra forma numa universidade e seria estranho que houvesse alguém na UM que impusesse outro caminho em termos de liberdades individuais.

Em semana de "blackout" do Cabido dos Cardeais aos media, abro o "Correio do Minho" e sou surpreendida por uma nova rubrica: "Ideias: Erasmus". Trata-se de um espaço que o jornal reservou para os estudantes da Universidade do Minho que, este ano lectivo, prosseguem os seus estudos em universidades estrangeiras. De todo o mundo. O título da primeira crónica é este: "Eu sou a Rita, de Braga, Portugal". A Rita é minha aluna de Ciências da Comunicação. Este ano lectivo está em Manchester. Leio com gosto as suas bem redigidas impressões da universidade que a acolhe. Nos dias seguintes, seguem-se o Luís que está na Lituânia e o Vasco que escolheu a Roménia. De segunda a sexta-feira, chegarão diariamente mais postais, destes e de outros estudantes Erasmus. Excelente ideia esta, a de abrir as páginas do Correio do Minho a universitários minhotos que, neste momento, estão em diversas partes do planeta.
Irei seguir com todo o interesse essas crónicas, não fosse eu uma coleccionadora de postais de cidades. Não tenho muitos, mas aqueles que possuo (quase todos oferecidos) servem de tela a uma das paredes do meu gabinete. Atrás da minha secretária, abrem-se, assim, múltiplas janelas para sítios distintos que eu vou unindo através de sentidos que são os meus. É, por isso, que gosto muito dos textos dos estudantes Erasmus.

Fico contente por serem assinados por alunos da Universidade do Minho que sabem abrir horizontes através das páginas dos jornais.

UM em Silêncio Colectivo, por Ricardo Vasconcelos

"Desculpem 'amigos' da UM, mas hoje, em nome dos leitores do CM, não posso concordar com o vosso desprezo."

Ricardo Miguel Vasconcelos, Correio do Minho

Os alunos da Universidade do Minho estão, até ver, em blackout, um silêncio que chegou sem pré-aviso e que surpreendeu aqueles que mais directamente lidam com os acontecimentos da academia minhota. A Latada 2008, célebre apresentação dos caloiros às cidades de Braga e Guimarães, foi vivida para dentro, numa introspecção desmedida e sem grande sentido por parte dos intervenientes.

Pelos vistos, esta atitude dos estudantes foi um desafio levado a cabo pelo Cabido de Cardeais que, em forma de protesto contra a maneira como a comunicação social tem tratado os assuntos relativos à praxe, silenciou as alegres mentes dos alunos da academia.
Depois de alguns contactos com pessoas ligadas à Associação Académica (não se confunda AAUM com o Ca-bido de Cardeais), foi-me dito que os estudantes ficaram revoltados com a forma como a SIC tratou a academia numa das suas recentes visitas às actividades de recepção ao caloiro.

O canal de televisão entrou, sem autorização, nas piscinas da rodovia, em Braga, no dia do 'caloiro ao molho'. Procuraram irracionalmente tudo o que de mal por lá se poderia passar e ignoraram o resto, a essência, o convívio, o acolhimento, o espírito de equipa, a luta por vencer as provas, os gritos de curso e os ternos abraços de quem chegou pela primeira vez à universidade. Resultado: nada encontraram, nada viram que pudesse envergonhar a UM. Depois, acabaram por dizer que o dia escolhido para fazerem a reportagem foi 'anormal', motivando uma interpretação clara de que naquele preciso e único dia os alunos estavam a portar-se bem, o que não acontece em todos os outros. Para essa equipa de reportagem, o que se passou naquele dia foi um milagre, uma coincidência infeliz, uma timidez colectiva.
Antes de tudo, esta atitude por parte da SIC é vergonhosa, peca por ser tendenciosa, por não cumprir as regras elementares de um trabalho jornalístico. Até aqui, tudo bem. Agora pergunto: esse canal de TV é 'deus', centraliza tudo o que se faz na comunicação social em Portugal? O que é que o Correio do Minho tem a ver com isto? Nada.

A atitude do Cabido de Cardeais peca, não pela forma, mas pelos critérios que o levaram a formular o conteúdo do protesto.
Há muito que as várias direcções da AAUM perceberam que a comunicação com o exterior e com o próprio meio onde assume a sua essência deve funcionar. E nesse aspecto, Vasco Leão e Roque Teixeira trabalharam muito bem. Pedro Soares, actual líder da associação, conseguiu estreitar ainda mais as relações com a imprensa local. E daí resultaram parcerias importantes como a cobertura jornalística de eventos tão nobres como a Recepção ao Caloiro, o Enterro da Gata, Gata na Praia, actividades do Departamento de Desporto e todas as outras realizações com origem na UMinho que são notícia diária, por exemplo, no Correio do Minho.

Dou os parabéns ao Cabido de Cardeais pela forma como conseguiu passar a mensagem, numa espécie de envolvência colectiva que obrigou a nossa jornalista a um exercício inglório de falar com algum dos intervenientes. Não houve ninguém a furar a rede de um acordo universal entre os participantes da Latada 2008.

Acredito que os promotores do protesto tivessem a melhor das intenções, mas as consequências do silêncio talvez tenham atingido todos menos aqueles que deveriam ser o alvo. A SIC não costuma vir à Latada, certo? E a RTP? E os jornais nacionais? Ninguém os vê. E neste aspecto, talvez seja altura da UM fazer uma reflexão colectiva sobre os seus critérios de comunicação. Todos sabemos que a universidade prefere cinco segundos na TV do que duas páginas num jornal regional. Prefere uma breve nos 'nacionais' do que três páginas nos 'regionais'. Pensa-se grande, mas em tamanho pequeno, minúsculo como a ligeira forma de pensar de que os de fora são sempre melhores do que os da casa.

Pedro Soares prontificou-se a falar com o CM no dia da Latada. Disse compreender a atitude dos estudantes, mas afastou a associação, e bem, de qualquer responsabilidade neste silenciamento. Obrigado por nos ter tratado de forma igual, sem generalizações precedidas de pouca reflexão.
No CM, a UM será sempre notícia, independentemente de falarem connosco. Já leram os testemunhos de alguns alunos que estão em 'Erasmus' por esse mundo fora?
Desculpem 'amigos' da UM, mas hoje, em nome dos leitores do CM, não posso concordar com o vosso desprezo. Não aceito o conteúdo. A forma, essa é indiscutivelmente relevante e mos- trou a união dos estudantes.

quinta-feira, 9 de outubro de 2008

Há ruas do centro de Braga onde praticamente não vive ninguém

Desertificação do centro da cidade e degradação dos prédios preocupa bracarenses. Derrocada do mês passado reacendeu a discussão sobre reabilitação urbana

Embora Braga esteja a revelar a sua faceta mais jovem e inovadora, o lado negro do centro da cidade tem escapado às objectivas. No início de Setembro, um desabamento na Rua dos Chãos, junto à Avenida Central, vitimou três trabalhadores da construção civil e reacendeu a discussão em torno da renovação urbana.

"Há ruas do centro de Braga onde praticamente não vive ninguém." O alerta é de Miguel Bandeira, professora de Geografia na Universidade do Minho (UM) e dirigente da associação de defesa do património Aspa. Ninguém conhece ao certo o número de casas degradadas e devolutas no centro de Braga, mas a voz corrente na cidade aponta para cerca de uma centena. A autarquia considera o número exagerado. "São seguramente menos de 100", assegura o vereador Carlos Malainho. Mas a verdade é que entre a Rua D. Pedro V, a Rua do Souto, a Avenida da Liberdade e a zona da Sé existem largas dezenas de prédios degradados, alguns devolutos e a anunciar ruína.

Os únicos números oficiais são os dos Censos de 2001, que diziam existir 10 mil fogos desabitados em Braga. Miguel Bandeira arrisca num número superior: "Hoje, existem pelo menos 15 mil casas desocupadas." "Braga é uma cidade antiga, com um núcleo de edificado em que predominam os prédios com mais de 50 anos", explica. E há factores de agravamento, como o envelhecimento da população e o despovoamento do centro histórico, que explicam o actual panorama dos imóveis bracarenses.

O geógrafo aponta responsabilidades à autarquia. "Não tem sido promovida uma reabilitação do núcleo urbano", critica. E considera que muitas das reabilitações que se têm feito são "restauros de fachada": "Apenas se mantém a fachada e todo o valor patrimonial do edifício é destruído." Bandeira defende que a autarquia premeie os proprietários para incentivar a reabilitação urbana.

A Câmara de Braga queixa-se de não ter autonomia para uma maior intervenção. "Estamos atentos, mas não podemos entrar nas casas sem autorização dos proprietários", assegura Carlos Malainho, vereador com o pelouro da Protecção Civil. "Esta é uma situação que preocupa a câmara", garante o vereador, revelando que a autarquia tem intervido nas situações que oferecem maior risco.

Os sinais de alarme, no entanto, chegam de vários quadrantes, incluindo dos bombeiros da cidade. "A situação das casas degradadas preocupa-nos imenso. Quando tudo falha a montante, sobra para os bombeiros", considera António Machado, presidente dos Bombeiros Voluntários de Braga.

Manuel Pereira, dos Sapadores locais, concorda e alerta: "A Rua dos Chãos nem é a zona mais problemática da cidade. A zona da Sé é um verdadeiro barril de pólvora." O presidente da junta de freguesia da Sé, José Alberto Silva, tem vindo várias vezes a levantar a questão. Ao todo, na freguesia do núcleo histórico de Braga, a junta de freguesia tem contabilizados 20 prédios degradados. "Esta é a freguesia que tem mais prédios em situação perigosa", anuncia, referindo quatro casas em risco iminente de ruína e "uma dúzia às quais um Inverno rigoroso pode colocar na mesma situação". Bombeiros queixam-se de falta de formação e de equipamento para derrocadas.

Os Bombeiros Sapadores de Braga lamentam não ter todas as condições para o socorro de acidentes na zona urbana. "Temos necessidade de ter um nível específico de formação que não temos para o salvamento em edifício desmoronado e um carro preparado para fazer escoramentos", afirma Manuel Pereira, delegado sindical dos Sapadores.

Os receios dos bombeiros
Os bombeiros temem que ocorram situações do género da que, no início do mês, vitimou três trabalhadores na Rua dos Chãos, e alertam para o facto de lhes faltar um braço mecânico de grande alcance e uma viatura de pequenas dimensões para combate a fogos urbanos. Mas o corpo dos Sapadores, constituído por 78 homens, conta com equipamento de protecção individual para cada elemento. "A câmara tem feito esse esforço", reconhece Manuel Pereira.

A autarquia investe na corporação cerca de um a dois milhões de euros anuais. Por isso, Carlos Malainho acredita que existem "os meios suficientes para as necessidades".

O autarca defende-se das queixas de falta de formação, afirmando que a autarquia contrata formadores sempre que entende que está disponível uma formação pertinente: "Temos todas as condições para dar formação no nosso quartel e sempre que é possível fazemo-lo."

Malainho entende que também não faz sentido falar-se em falta de meios para fogos urbanos. "Estamos bem equipados, com carros novos. O que falta é uma viatura de combate a fogos florestais." Braga é a única cidade do país com bombeiros profissionais e uma corporação de bombeiros voluntários.

António Machado lamenta que os Voluntários de Braga disponham apenas de um carro antigo para incêndios urbanos com mais de 20 anos. Além disso, falta um autotanque de grande capacidade. Mas se as viaturas algum dia forem compradas não têm onde ser guardadas, pois o actual quartel é pequeno. Existe terreno para um novo edifício, mas não há financiamento, pelo que a corporação apresentou uma candidatura para incluir esse investimento no QREN.

Samuel Silva, no PÚBLICO